O inverno em nós

Falar sobre inverno, em plena primavera. Já nem estamos mais nos dias frios, mas lembrar que ele existe é essencial para se compreender muito do ciclo das coisas.


Tudo muito natural, quando pensamos nas mudanças climáticas, nas paisagens e como elas se modificam, mas o inverno que falo não é o externo, que deixa tudo frio no exterior e que nos faz colocar roupas mais quentes e sim o inverno interior de cada um. Gosto de olhar para a natureza e para a nossa natureza e tentar entender no que elas se relacionam. Falar sobre o inverno em nós é falar sobre a necessidade que temos de, em determinado momento, deixar de florir, ser calor, deixar as flores caírem e se recolher em si mesmo.


Há muito estamos vivendo num mundo de primavera e verão e lembro-me do que meu professor da especialização sempre diz: “Estamos acostumados a ir ao shopping, gastar o dinheiro que não temos, comprando coisas que não precisamos, para fingirmos ser quem não somos e impressionar quem nem conhecemos”, atitudes da Primavera e do Verão, uma vez que mostram extroversão, energia sendo direcionada para o externo, para o outro.


Mas e ai, o que acontece quando a vida nos cobra o oposto? Jung, em sua obra, fala sobre o princípio da enantiodromia, que seria o responsável por, ao direcionarmos energia para um sentido, gerar uma energia em sentido oposto. Quando isso acontece, a introversão, na mesma proporção, nos chama a olhar para dentro e não para fora. E nesse ponto, pelo menos para muitos, está o grande problema: Como somos direcionados a viver apenas para extroverter, a introversão é patológica e tem-se a (hoje famosa) depressão.


Não quero dizer que não exista a depressão. Ela existe sim e, em muitos casos, além do acompanhamento psicoterapêutico, necessita intervenção farmacológica. Acontece que estamos em um momento no qual não podemos mais seguir a nossa natureza e até mesmo quando nossa psique nos força a olhar para dentro, nos rendemos à pílula da felicidade. Não olhamos para nossa tristeza e de forma “mágica” nos tornamos felizes, ou muitas vezes, só não estamos mais tristes. Infelizmente, uma hora o pêndulo volta para dentro e conforme for, cada vez mais “forte”.


A depressão, assim como o inverno, não deve deixar de existir, mas sim vivenciada. Precisamos entender que, não apenas entre Junho e Setembro, nas ruas as pessoas estão mais arrumadas, o chocolate quente é aconchegante e é uma delícia ficar frente a uma lareira. Também precisamos olhar para nosso inverno interior e entender que, se o respeitarmos, teremos espaço para as demais estações, cada qual com sua beleza.

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