Rotular para (deixar de) existir

Há um tempo, tenho notado nas mídias, redes sociais e conversas entre amigos um grande “falatório” em torno de rótulos. “Homossexual”, “depressivo”, “gordo”, “magro”, “cristão”, “hiperativo” e por aí vai. Alguns podem pensar que me refiro de forma pejorativa, mas não, falo de rótulos, pois é exatamente isso que está acontecendo. Características (uma entre inúmeras nossas) estão deixando de nos caracterizar para nos DEFINIR.


Estamos passando por um momento de mudanças sociais no Brasil (e no mundo), e a reflexão se faz necessária neste sentido. A globalização, a universalização da informação, a busca incessante pelo lucro, nos pede por informações fragmentadas. Nos solicita olhar para esses rótulos de uma forma genérica, para assim podermos abarcar todos que tem essas características. Mas esquecemos: nós temos as características, mas não SOMOS elas.


Meu ponto de vista, novamente, é o de um profissional de saúde e vou partir para o exemplo de saúde. É muito mais rápido, eficaz, e com menor chance de erros se eu tenho um protocolo de como conduzir o atendimento e o tratamento de uma determinada patologia. E isso é muito útil nos casos em que a patologia está ligada a agentes externos em sua causa (vírus, bactérias, etc). O problema é quando tentamos transpor o mesmo “modelo” para tratamento de algo interno, e aí se encontra na literatura, nos cursos, nos workshops: “Como tratar e curar a depressão?”, “como atender pacientes psicóticos e neuróticos?”.


Ora, alguém já pensou que, além das patologias, esses sujeitos tem outras características? Outros sonhos, desejos, medos, receios?


Precisamos, na medida do possível (pois é necessário sim, ter a compreensão sobre o “rótulo” de alguém) deixar de lado esse olhar lógico (se, então) e reducionista, para compreender o sujeito em sua totalidade.


O mesmo acontece em relação às relações sociais: se mora na periferia, então é bandido; se é homossexual, então é promíscuo; se é gordo, então é por não se preocupar com a saúde; se é mulher, então tem que “esquentar a barriga no fogão”; se isto, então aquilo. Reduzimo-nos a nada. Reduzimos o outro ao que julgamos ser uma verdade, ao que foi um achismo de alguém e que pode nem condizer com a realidade dessa pessoa.

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