Selfies e a dificuldade do encontro com o Self

Temos visto diariamente o excesso de exposição, de fotos, selfies, pratos de comida, roupas, celulares, objetos. Tudo isso na telinha do nosso celular, nosso computador, nas redes sociais, nos telejornais. Em contrapartida, as pessoas cada vez mais reclamam e lutam por privacidade, num jogo meio “bipolar” de continuar se expondo, desde que isso não me afete, que isso não mude minha vida pessoal, apenas minha vida social.

As Selfies hoje parecem ter uma função de provar ao outro quem nós “somos”, sem ao menos dizer nada sobre nós. O cantor sertanejo Israel Novaes chama a atenção para isso ao cantar:

…Ô, tá acreditando não? É! Vou bater uma selfie pra mostrar que eu tô feliz / Que foi ao contrário do que você sempre quis / Olha, eu não tô sofrendo nada / Eu tô é curtindo na balada com a galera / Você já era!...

Esses versos falam muito da necessidade de, mesmo com todas as dificuldades, mostrar o quanto estamos “bem”. Não admira, em momentos de crise, de dificuldades, a fuga simbólica dessa realidade por meio de selfies e mais selfies, talvez para acreditar que tudo está como não está.

O grande problema da Selfie é que, apesar do nome ser parecido, ela está muito distante do conceito de Self, que Jung define como a imago Dei, a totalidade em nós, nosso Deus interior. É o Self o senhor de nosso destino, a essência de quem somos e o centro de nossa Psique.

O Self é o arquétipo que guia o processo de individuação, meta de todos nós em nossas caminhadas. Um eterno vir a ser que nos movimenta mais e mais em direção a nós mesmos.

A Selfie das redes sociais, se não tomadas as devidas precauções, acabam por constituir Personas negativas, e acabamos vivendo em função delas, cada vez mais nos distanciando de nós mesmos, negando quem somos em detrimento do que achamos que é melhor ou que é prestigioso.

Que possamos sim, tirar nossas Selfies, mas com o cuidado de não nos perder do Self, o si-mesmo. Um viver saudável transita entre o que é esperado socialmente e o que é esperado pelos outros em nós.