A dor do silêncio

Atualmente, nota-se uma grande queixa generalizada: dor lombar. Apesar de a minha área ser a Psique, venho falar sobre a dor física, que (aparentemente) nada tem de relação com o psíquico. Segundo a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor, a dor crônica, aquela que dura mais de 3 meses, podendo a durar anos, acomete entre 30 e 50% da população.


Porém tem sido constante: vai-se ao ortopedista, ao reumatologista, faz-se exames e mais exames, entra-se com medicação, muda-se a medicação, acupuntura, fisioterapia, RPG, Pilates e, em alguns (muitos) casos, a dor persiste. Parece até que depois de um tempo, ela já faz parte de nós.


Então é interessante questionar: Será que esse tempo todo, essa dor não fazia parte de nós? Qual o motivo que sempre imaginamos que ela fosse uma intrusa em nossa vida?


O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, fundador da Psicologia Analítica, e um dos precursores da Psicossomática nos aponta para o fato de que todo sintoma, qualquer que seja, é simbólico. Apesar de cada caso ter sua especificidade, pensando num contexto simbólico, a região lombar fica encarregada de manter nosso corpo ereto, assim como, nos animais de carga, é onde fica alojado todo o peso, o que nos faria pensar, de forma geral, que muitas vezes esse incômodo pode estar relacionado com o peso, literalmente, que acabamos carregando psiquicamente ou até mesmo uma dificuldade em se manter firme perante algumas dificuldades da vida.


O grande desafio, muitas vezes, e isso é constante em nossos dias, é deixar de servir a exigências e pedidos externos, para ouvir o nosso interior. Com isso, muitos acabariam percebendo que esta dor, assim como disse anteriormente, é nossa sim. Mas que ela não precisaria existir, se não tivéssemos em algum momento, silenciado parte de nós em detrimento do externo.


Energia psíquica


A psicologia Analítica entende que a energia que dá força ao sintoma, está em constante movimento na psique, mas que muitas vezes, nós impedimos que ela circule. Quando isso acontece, freqüentemente temos um aumento de energia psíquica em um único ponto, que vai fazer com que apareça um sintoma. É, em outras palavras, a psique se encarregando de dar voz ao que nós, por qualquer motivo que seja, silenciamos.


Além do mais, sempre que aparece um sintoma, ou ele foi gerado por alguma angústia ou está gerando alguma angústia ou até mesmo as duas situações. O tratamento, além das intervenções médicas, pois não podemos diminuir a importância real das investigações no corpo, também deve ter, no seu escopo, o apoio psicológico. Seja pelo profissional de psicologia, ou até mesmo pelos processos de empatia, acolhimento e escuta por outros profissionais de saúde.


Prevenção


Por esse motivo, a psicologia se torna de grande importância em nossas vidas e não apenas nos momentos da doença, mas principalmente como prevenção da doença. Não digo que seja necessário a psicoterapia para todos, sob qualquer circunstância ou situação, visto que ainda hoje, muitos não tem condições para um processo psicoterapêutico e também devido a deficiência da oferta desses serviços em âmbitos públicos e privados, mas outras práticas tem, em alguns momentos, os mesmos ou melhores resultados do que teriam com a terapia, por meio de artes, espiritualidade, cultura, viagens, entre outros.


Com isso, fica o convite: vamos buscar ouvir nossos sentimentos, caso contrário, ao silenciá-los, eles podem se manifestar de forma indesejada para serem ouvidos, uma vez que tudo o que não é trabalhado na mente pode acabar se manifestando no corpo.



(texto publicado na Edição 199 da Revista Check Up)

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