Sereias no mercado de trabalho

Sereias são seres mitológicos presentes em diversas culturas mundo afora. Em alguns mitos, são sedutoras, em outros monstruosas, mas em sua maioria há o afogamento de um jovem pescador ou um marinheiro nas águas. Trazendo mais próximo da nossa cultura, temos Iara, Mãe d’agua que, percebendo a proximidade de um jovem começa a cantar com sua voz encantada. Ele acaba cedendo aos seus encantos e a segue, sem críticas, para o mais profundo das águas.

Muitos mitólogos, antropólogos e psicólogos, em especial o psiquiatra suíço Carl Jung apontam para o fato dos mitos serem registro dos ritos cotidianos das culturas desde seus primórdios, ou seja, podemos pensar que, em nossas vidas, temos sereias a cantar em nossos ouvidos, nos deixando sem poder de escolha, cegos, seduzidos.

“Mas o que esse papo todo tem a ver com a vida profissional? Parece mais conversa para boi dormir”. É exatamente onde nós acreditamos que estamos seguros e ilesos do arquétipo (conteúdos simbólicos universais e primitivos do inconsciente coletivo), que ele tem maiores chances de aparecer, ainda por cima, sem que percebamos. Não é incomum sereias aparecerem em nossos caminhos, quando decidimos a área de estudos, quando ouvimos uma oportunidade de trabalho ou até mesmo quando adotamos um estilo de vida. E muitas vezes sua voz não precisa nem de uma existência em uma pessoa. A mídia é uma sereia “por si só”, seduzindo para a profissão que dá mais dinheiro, mais prestígio, mais status.

Não é incomum, no início da carreira, o profissional se direcionar a profissão de um amigo, de um familiar, ou então para aquela profissão que “está dando mais dinheiro”, apenas pelo fato ter se iludido. Isso pode não ser prejudicial, quando se ouve esse canto, mas tem-se em si seus valores, e ainda a capacidade de fazer próprias escolhas.

Muitos jovens podem imaginar que estão ilesos, que nunca ouvirão a sereia cantando, pois a geração Y sabe exatamente o que quer: ter seus projetos de carreira e de vida atrelados. A entrada no mercado como profissionais liberais, autônomos, freelancer, a opção por empregos que possam oferecer uma carga horária flexível ou até mesmo políticas de home office. Desconhecem que, no decorrer dos tempos, ainda que nós pensemos que esses mitos são contos de fada, imaginação, mentiras, eles são atualizados e reinventados inconscientemente e estes novos modelos de trabalho, nada mais são que canções “sedutoras”, ainda que cantadas em outro tom.

Acima de tudo, devemos ter a tranquilidade de que estas cantoras das águas tentarão, sempre que estivermos em um momento de decisão, aparecer para tentar nos levar para o fundo de suas águas. É quando somos influenciados pelos que estão ao nosso redor e nem sempre isso é prejudicial, ainda mais se, ainda com esse cenário, mantenha-se a possibilidade de fazer próprias escolhas com base no autoconhecimento. Para isso, hoje temos ofertas de diversos profissionais de orientação profissional e coaching que podem orientar na primeira quanto nas próximas escolhas profissionais.

Para finalizar, deixo apenas a orientação: quando ouvir a canção, tenha muito cuidado para não dançar exatamente conforme a música.