Mr. Babadook e a psique

Recentemente assisti ao filme "Babadook". Trata-se de um terror no qual, após encontrar um livro de história infantil macabra, Amélia, mãe de Samuel, começa a ter visões com o "Sr. Babadook", personagem do livro infantil que dá nome ao filme, até o momento que Babadook se apossa de Amélia.
Samuel nasceu no dia em que Amélia fica viúva, de modo que o dia de nascimento do filho foi também o dia da morte do marido e até a data em que se passa o filme, nunca houve uma comemoração do aniversário de Samuel na data correta. Cabe ressaltar que, ao se confrontar com as ameaças de Babadook, Amélia também se recorda do marido.
Ao longo do filme, o livro é destruído, jogado fora, mas sempre retornando à casa e atormentando Amélia, que não aprova que o filho fale sobre Babadook.
Para a Psicologia Junguiana, os complexos do inconsciente são personalidades autônomas que giram em torno de uma temática. São relegados à sombra, à escuridão da psique, quando não são aceitáveis em nossas necessidades cotidianas ou por resistência da consciência, mas sempre vindo à tona novamente, com a mesma intensidade de seu recalque. Pensando desta forma, compreende-se o motivo de a cada vez que Amélia sentia-se livre e tranquilizada por não ter mais o livro em sua casa, este retornava de forma mais assustadora e também com o conteúdo alterado e mais agressivo, até o momento em que Amélia (Ego), acaba por perder o controle da situação.
Babadook assume os sentidos e os atos de Amélia. (Mas antes, quem é Babadook?)
Babadook, na tradução do nome, seria um jogo de letras que se refeririam a "A Bad Book" ("um livro mau", em tradução livre), mas Babadook representa o masculino recalquado no inconsciente, quando perde o marido. Depois de tanto tempo fugindo da lembrança do marido, comemorando o aniversário do filho em conjunto ao de uma sobrinha, este masculino (agora sombrio) vem à tona.
Interessante pensar que estes aspectos possam estar em vias de uma integração, ao final do filme, Amélia passa a ter uma estrutura psíquica que ja possibilita encarar ao Babadook, alimentá-lo, mas ainda dentro do porão. Ou seja, a personagem passa a compreender, com auxílio do filho e também de uma idosa vizinha, a necessidade não de negar suas sombras, mas compreendê-las e acolhê-las como parte de si.
O filme traz a tona a necessidade de expressão dos complexos, do inconsciente, e que havendo qualquer obstáculo que impeça essa manifestação, pode-se dar força para que esse conteúdo, sem pedir licença, irrompa das profundezas da psique tomando o controle do aparelho psíquico.
No consultório psicológico, a todo momento "Babadooks" pedem licença para falar. Tomam a voz. São ouvidos. São cuidados, principalmente por aqueles que os trazem, mas amparados pelo psicoterapeuta. Os conteúdos sombrios são matéria-prima no processo de autoconhecimento e de individuação.
 
 
 

Comentários

Postagens mais visitadas