Psicoterapia: prevenção ou tratamento?

Maior parte das pessoas que ocupam lugar de pacientes num consultório de Psicologia chegam somente após grande sofrimento, quando já tentaram de todas as formas melhorar seu padecimento.  O fazer do Psicólogo é incompreendido, ainda muito visto como um profissional que aconselha e tem todas as respostas e as pessoas, num intuito de não serem dependente de quem quer se seja, precisam se mostrar fortes para amigos, família, colegas de trabalho, resolvendo seus problemas por conta própria.
Tudo isso numa sociedade de consumo e de capital, onde tudo o que necessitamos está numa prateleira de lojas, mercados, farmácias. E o pior, entramos numa lógica de que nós também precisamos ser bons produtos, precisamos atender às demandas de uma parcela de população.
Nesse ponto, o sofrimento psíquico muitas vezes aparece de modo a mudar o foco desta demanda externa para o que se demanda internamente.  Ele incapacita e nos faz improdutivos perante a demanda externa, comprometendo a relação com pares e pessoas próximas. Dessa forma, o chamado da psique para reaver-se consigo mesmo, por não produzir e não gerar resultados para o outro, para o mundo interno, pode ser compreendido como um sinal de fraqueza, ainda mais quando se está num ambiente onde tem-se respostas e necessidades atendidas de forma tão fácil.
Acontece porém, que para ser funcionais na sociedade, fortalece-se paulatinamente a relação externa, com o uso de personas cada vez mais cristalizadas, de acordo com o que se espera de cada pessoa (produto). "Você precisa ter uma graduação, depois uma pós-graduação, até um PhD...", "Se vista desta forma, conseguirá mais clientes", "Ora, não se apegue a esta tristeza, nós precisamos ser felizes", "Você está acima do peso, já pensou em fazer uma dieta low-carb?". E assim, gradativamente, escolhemos silenciar o que fala em nós, para seguir o que pedem os outros.
Desta forma, sendo a última opção para a maior parte das pessoas, a psicoterapia acaba sendo tomando um espaço de certa decepção, para elas, muitas vezes desacreditadas, por colocarem na figura do terapeuta a esperança de uma cura milagrosa (como tudo o que se espera, instantâneo). Acontece que ao falar do sofrimento psíquico, falamos de uma condição que, apesar de engatilhada com uma situação específica, foi sendo desenvolvida no inconsciente por meio de diversos conteúdos descartados num conjunto de situações de escolhas conscientes.
A psicoterapia ou a análise, tem valor não apenas terapêutico, mas também e principalmente, preventivo, motivo pelo qual tem sua importância não apenas nos momentos de crise ou de uma psicopatologia, mas para a compreensão de sua própria dinâmica psíquica no cotidiano e prevenção de possíveis padecimentos.
 
 

Comentários

  1. Excelente texto João
    " E assim, gradativamente, escolhemos silenciar o que fala em nós, para seguir o que pedem os outros."

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