Um ponto final?

No mês de setembro, a sociedade se mobiliza em falar sobre o suicídio, as redes sociais, os meios de comunicação, os transportes públicos, órgãos de saúde, todos aderem ao laço amarelo que é símbolo deste ato, o Setembro Amarelo. Atualmente o Brasil ocupa o 8º lugar na lista de países que mais cometem suicídio e temos apenas um mês em meio a outros onze, no qual se é permitido falar sobre isso. O suicídio é a causa mortis de aproximadamente 11 mil pessoas por ano no Brasil e poucas pessoas tem este dado.
Ainda pouco se fala sobre suicídio e morte, tabus em nossa sociedade que valoriza ao extremo a vida dentro de padrões e caixinhas normativas. Acontece que essa normatização de como deve-se viver, a determinação binária de certo-errado, bom-ruim, feio-bonito, aceitável-inaceitável, acima de qualquer coisa acaba por provocar o adoecimento e, as chances de suicídio. Muitas vezes relacionamos o suicídio com a depressão (que é grande responsável pelo ato suicida), mas por desconhecimento deixamos de lado outros distúrbios, tão importantes quanto a depressão, que podem culminar num suicídio, por exemplo os transtornos de personalidade, transtorno afetivo bipolar, psicoses, entre outros.
Acontece que estamos vivendo uma unilateralidade na sociedade a ponto de, simbolicamente e psicologicamente, aqueles que não se adequam às regras, já estão mortos, não tem seu espaço. E nesse sentido, não falo apenas do macroambiente, mas também nos microambientes, na estrutura familiar, grupos de trabalho e estudo.
Em meio a críticas, ao medo de julgamentos, falta de receptividade em ser quem se é, o suicida muitas vezes vê nesse ato uma "solução" para acabar com o desconforto e com sua dor, quando muitas vezes essa ação poderia ser revertida com respeito e acolhimento às suas dores e, porque não citar, acolhimento de si mesmo.
Nesse sentido, olhando para determinadas normas impostas por certos grupos na sociedade e a impossibilidade de ser quem se é, temos que a cada 10 brasileiros que cometem suicídio, entre 2 a 6 são LGBT e 40% das pessoas transsexuais já tentaram cometer o suicídio. Esses números dizem respeito a uma parcela da população, que não encontram espaço para conviver num mundo de intolerância, mas quantos são os que, ainda que sofrendo de um transtorno psiquiátrico, em tratamento, ainda assim têm suas dores vistas como "frescura"? Nenhum sofrimento é "frescura", tenha certeza disso. Mas parece que estamos cegos e perdidos em nossas ilusões e certezas absolutas que não nos possibilitamos ao menos tentar ser empático com o outro.
A melhor prevenção para o suicídio não é a compreensão do porquê que motivou o ato quando ele acontece, mas sim medidas preventivas para que o indivíduo possa se ver na vida, possa ter seu espaço no mundo. Façamos como o ponto-e-virgula que, num texto, finaliza o que foi escrito até ali, mas deixa abertura para que algo mais seja escrito, substituindo o ponto final, dar a possibilidade de que haja a compreensão deste que sofre e de toda a história que ele pode escrever no porvir.

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