Quando é hora de dar voz

Todos nós passamos por situações como esta em algum momento: "não pode ser assim pois senão você não herdará o reino dos céus", "homem não chora", "você precisa ser forte e dar conta das suas dores", etc. E tudo isto desde muito pequenos. Uma necessidade extrema de "dar certo", "ser bom", "fazer o bem".
Mas a humanidade tem um preço, que muitos de nós não queremos pagar: não é 100% bondade. Em alguma ocasião da vida, nós silenciamos tudo o que não era desejado (social e culturalmente, mas também por nós mesmos, após tanto tempo de "aprendizado"), mas nunca o tiramos de dentro de nós.
Para Jung "até que nos tornemos conscientes [destes conteúdos silenciados e jogados na esfera inconsciente da nossa psique e, por consequência, de nossa totalidade psíquica], o inconsciente dirigirá nossa vida e o chamaremos de destino". Destino ou o nome que seja, na verdade, nós acabamos por responsabilizar ou culpar seres de qualquer natureza, a incompetência do outro, os defeitos de Fulano e os problemas de Cicrano, pelos nossos padecimentos. Na verdade, isso talvez aponte para a única oportunidade de se confrontar com nossos fantasmas e sombras, pois de maneira diferente, não os reconheceríamos.
De uma forma ou de outra, esta criança silenciada, até que consiga ser cuidada e possa também crescer e ter certa maturidade, vai buscar (e encontrar) meios de ser ouvida. Seja no comportamento do outro, seja nos sonhos ou seja até mesmo no adoecimento (psíquico e mental).
Compreender não significa concordar, mas principalmente aceitar que sim, esta sombra existe em cada um de nós e que não devemos fugir dela, muito menos nos entregar a ela, pois em qualquer um dos casos, esta unilateralidade não seria benéfica.
Talvez seja hora de, assim como na mitologia do herói, se reconciliar com nossos dragões, nossas profundezas sombrias, para resgatar o que nosso psiquismo tem de tão precioso e que está aprisionado em nós mesmos.

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