Desmascarar o carnaval

Quarta de cinzas, mais um carnaval foi embora. Com ele, as fantasias, máscaras e marchinhas de duplo sentido foram-se também embora, para reaparecer no ano que vem.
Voltamos aos nossos compromissos cotidianos, trabalho, estudos, grupos de afinidades, nos quais somos nós mesmos, sem fantasias, sem máscaras... Ou, pelo menos, é isso que queremos acreditar. Na verdade, penso que o final do carnaval traz também a obrigatoriedade de se reaproximar de máscaras socialmente aceitas e desejadas.
As relações sociais nos solicitam o uso das máscaras (que Jung chamou de Personas, nome dado às máscaras do teatro grego) para nos proteger, nos colocar em contato e em relação com os demais, sendo inclusive, necessárias para referência de como nos portar frente a cada figura social.
Mas se usamos máscaras em nosso dia a dia, e as fantasias do carnaval? Bom, penso que elas permitem que nossos complexos (personalidades autônomas com uma temática central que temos atuantes dentro de nós) tenham contato com o mundo externo, assim como as personas que desenvolvemos ao longo de nossas vidas permitem que nós nos relacionemos com os outros.
Penso que os dias de "folia" são a oportunidade que temos, não apenas de nos relacionarmos com os demais foliões mas, principalmente, permitir que nossos foliões se relacionem conosco e com os outros. É o momento para que a função criativa ocorra, não apenas na confecção de fantasias, mas também nas inflexibilidades de egos fortemente repressores de outros conteúdos internos.
Acontece que, como sabemos, também é um momento de excessos: uso de álcool e outras substâncias, privação de sono, relações sexuais não apenas em excesso, mas muitas vezes sem a devida precaução e proteção, acidentes, entre outros. Tudo isso nos aponta o quanto uma festividade como esta ainda vem carregada de sombras e complexos que, por tanta repressão egóica, quando encontram uma forma de se manifestar, precisam nos "tirar de cena", pois de outra forma eles não poderiam atuar.
Dentre 365 dias no ano, ninguém quer aproveitar apenas quatro. Assim também penso que devemos levar em consideração os nossos complexos: se não atuarem em outros momentos de um ano, pelo menos terem voz, serem ouvidos e reconhecidos e compreendidos, pois dessa forma podemos seguir para um processo de integração de sombras que estarão sambando e marchando nos "bloquinhos" das profundezas da psique.

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