Em nome da diversidade

Junho é tido mundialmente como mês do Orgulho Gay, ou LGBTTIQ+ (se eu não me esqueci de nenhuma letra). Isto por conta de, no dia 28 de junho de 1969, a comunidade gay de Nova Iorque ter travado um embate com a polícia após batidas e tentativas de prisão a frequentadores de um bar gay. A data repercutiu tanto em nível local, como foi referência a nível global para instituir um marco no combate à discriminação e homofobia, além de garantia de direitos e no orgulho de ser quem se é.
Mas até aí, muitos pensam ser este dado uma conquista ou uma luta unicamente da comunidade LGBTTQI+ (à época, apenas GLS). Fato é que este pensamento está equivocado, quando se percebe a truculência e a ação da polícia como cerceadora do direito da manifestação e, porque não da existência, da diversidade, temos também que nos dar conta do quanto nossos policiais internos, acostumados que são com o modo como fomos moldados a ser para uma plena aceitação pública e social, por conta de contexto sociocultural, família, religiosidade, e muitos outros aspectos.
Estes policiais que temos em nós, penso eu, acabam por além de não aceitar a existência da diversidade em nós, muitas vezes direcionando nosso agir para atacar, discriminar e encarar como errado, a diversidade do outro, justamente em aspectos que fogem especialmente à norma, entre eles, e principamente, a orientação sexual.
Parafraseando um vídeo muito circulado pelas redes sociais, em que o médico Dráuzio Varella orienta que, caso a pessoa com quem seu vizinho dorme lhe cause estranhamento ou desconforto, talvez seja um indicativo para a busca de um psiquiatra, a compreensão de aspectos da sua própria sexualidade, seja ou não em psicoterapia, pode ser a peça primordial para acabar com esse desconforto. E olha que muitas vezes isto nem significa se tratar de uma homossexualidade recalcada, como muitos dizem, mas talvez de um desconforto por este diferente nunca antes ter espaço para existir, ainda que na sexualidade do outro.
Jung, ao longo de sua obra, fala em diversos momentos sobre a necessidade de nos confrontarmos com aspectos que muitas vezes não tivemos a oportunidade ou não quisemos confrontar antes em nossas vidas, seja por escolhas (nossas ou dos outros) ou por possibilidades. Quando este confronto não acontece de forma saudável em meios internos, a psique se organizará para que ocorra em meios externos.
Com tanta repressão da diversidade sexual em cada indivíduo, penso serem estes movimentos de dar voz ao que tanto foi calado, uma forma de, em relação com o outro, também poder entrar em contato com suas próprias diversidades.
Jung também fala da potencialidade de adoecimento quando da unilateralidade, ao sermos monotemáticos, não darmos espaço para diálogo, onde apenas há o monólogo daquilo que nos acostumamos. Compreender e respeitar as diversidades não é um compromisso apenas com o outro que é "diferente", mas principalmente compreender-se como alguém passível de também ter suas próprias diferenças e agir com criatividade.

Comentários

Postagens mais visitadas