Não devemos falar de Suicídio?

São tantas as manifestações de apoio e de suporte quando o assunto é prevenção ao suicídio no mês de Setembro, mas por vezes me pego pensando se não tem algo que possamos fazer um passo antes de acolher e dar suporte emocional e terapêutico à pessoa que pensa no suicídio como uma opção.

O que digo a seguir, vem de diversas reflexões neste sentido e nao esgota esta temática e nem responde a todas as situações nas quais as pessoas pensam, tentam ou conseguem cometer o suicídio. James Hillman, em seu livro "Suicídio e Alma" traz a tona o questionamento: o que quer a Alma por meio do suicídio? Ou seja, o que deseja a Psique por meio deste ato?

A nossa vivência psíquica existe de opostos, isto não podemos negar. Desde algumas satisfações até alguns desprazeres. Realizações e frustrações. Mas temos em nossa sociedade algo totalmente diverso em curso: uma ditadura apenas do lado bom, uma obrigatoriedade de estarmos sempre felizes, sempre de bem com a vida e sem problemas.

Nossas frustrações, que nós pouco ou nunca vivenciamos acabam como fantasmas construindo sua morada no mais profundo do inconsciente enquanto na nossa vida cotidiana alegre e sem nenhuma dificuldade, a única que tem razão de ser vivida, estes fantasmas aparecem apenas visualizados no outro.

Mas e quando nos damos conta de que tamanha façanha (viver nos moldes nos quais fomos ensinados a viver) nem sempre é completamente possível? Aí que tudo isso que deixamos no mais profundo dos baús em nós encontram espaço para se manifestar, de forma avassaladora, mobilizando para a morte desta vida perfeita.

Mas o que será que a Alma quer com isso? Alma nenhuma quer morrer, pelo menos não de forma literal, já que isso faria com que ela perdesse suas possibilidades de atuar no mundo e seguir viva. É comum quando as pessoas falam sobre seus pensamentos e tentativas de suicídio relatarem que não aguentavam mais a dor, que estava difícil demais e que seria uma possibilidade de, adentrando no morrer, deixar tudo isso para trás.

Penso que a Alma, nesse momento, oferece uma oportunidade de "quebrar-se", morrer simbolicamente, mas que também deverá seelr sustentada para lidar com diversas outras frustrações e, por fim, renascer também de forma simbólica. Mas fomos ensinados que tudo o que quisermos teremos, que nossos filhos não podem se frustrar e que não devemos dizer "não" em hipótese alguma.

Criamos deuses de carne e penso que, em certa medida, é isso que a Alma quer quando apresenta a temática da morte: nos lembrar que somos mortais e que nem sempre teremos o que e como queremos. Cabe a nós enquanto humanos, aprender a se frustrar e se refazer a partir disso. Cabe a nós, enquanto profissionais, também lembrar nossos clientes dessa nossa realidade.

A psicoterapia é um dos espaços onde podemos ouvir um pouco mais sobre o que anseia esta Alma e também conversar com ela quanto a outros meios para que esta transformação ocorra, mas pode não ser o único espaço. Penso que precisamos, nos espaços como um todo, não ter medo e nem censuras em falar sobre essa temática.

Não tenha medo de falar com alguém sobre o que te aflige, sobre o que está difícil e sobre o que pode ser feito para além disso.

Comentários

Postagens mais visitadas