Trabalho, identidade e individuação


Feriado. Não trabalhamos, apesar de ser dia do trabalho. Volta e meia, no meu fazer de psicólogo, seja no contato com os pacientes ou então em minha própria vida pessoal, o tema "trabalho" aparece trazendo questionamentos e reflexões, incertezas ou seguranças.





Mas afinal, o que é o trabalho? Etimologicamente, no latim, existem duas definições, uma delas, tripalium, diz respeito a um instrumento de bater trigo, espigas de milho, ou seja, ligado à agricultura. A outra, tripalus, diz respeito a um instrumento de tortura romano, onde eram supliciados os escravos.





Não a toa, ainda hoje muitas pessoas olham para as relações de trabalho e pensam "Esse domingo poderia nunca acabar, senão chega a segunda-feira e eu preciso retornar ao trabalho", alguns até se referem ao trabalho como uma forma de "sacrifício". Curioso pensar que o termo "sacrifício" vem de sacro-ofício, um ofício sagrado.





Pois bem, o que tudo isto tem a ver com o caminho de individuação? O colega Rafael Rodrigues (Solução Ativa), certa vez palestrou sobre o tema e a forma como muitas vezes nos identificamos com nossas personas profissionais, em detrimento de nosso processo de individuação. É interessante pensar que, este trabalho que tanto nos consome, o faz a tal ponto de destituir-nos inclusive de nós mesmos.





Neste sentido, buscar compreender o nosso desenvolvimento pessoal e psicológico também pode ser entendido na forma como estabelecemos nossas relações de trabalho. Ora, o processo de individuação, este vir a ser constante, acontecera de um modo ou de outro, sendo que o trabalho, sendo uma das formas de se relacionar com o mundo, com os outros e com nós mesmos, pode ser um aliado neste caminho.





A autopercepção e compreensão de si, nossos interesses e predileções, assim como os meios que utilizamos para realizar nossas escolhas de estudos e trabalho, podem ir na contra-mão de quem realmente somos, buscando suprir necessidades outras que não as nossas, ou podem ir na direção do nosso próprio desejo, de quem somos e onde precisaremos chegar.





Cabe a nós, na nossa relação com o trabalho, escolher: uma forma de tortura dos nossos desejos, vontades, valores e princípios ou uma forma de sacrificar o que esperam de nós na direção de um ofício que respeite o que temos de valioso e, por que não, sagrado em nós.


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