Uma xícara de acolhimento?

Todo mundo já passou por aquele momento em que alguém bate à nossa porta e a gente, por ja saber quem é, por não estarmos num bom dia, ou até mesmo por não termos tempo, numa rotina tão atribulada, não podemos "perder tempo" com visitas inesperadas.

Tenho pensado muito nesta imagem como uma metáfora para nossos processos psíquicos. Ora, toda vez que alguém bate à nossa porta e, ainda que por motivos quaisquer não possamos compreender as motivações desta pessoa, ela o faz esperando algo, em busca de algo: seja uma xícara de açúcar que faltou para o bolo, seja uma conversão religiosa, seja uma roupa ou cobertor que não usamos mais, mas que pode salvar a vida dessa pessoa.

Por que seria diferente quando somos visitados por nós mesmos em nossos processos psíquicos? Por que, assim como era comum quando eu morava no interior, a gente não pede para esse visitante entrar, oferece um café, uma água, um bolo, antes de mandarmos embora?

Recentemente, a gente não tem mais tempo, paciência e nem disposição de receber visitas, mas no caso de uma ansiedade, uma depressão, uma bipolaridade, elas chegam, arrombam a porta sem que as convidemos e nem sempre vão embora quando a gente quer.

O intuito do processo de psicoterapia é justamente o de receber essas visitas, conversar, entender suas necessidades, ver o quanto podemos ou nao ajudar. É principalmente reconhecer que até mesmo no mais assustador dos sintomas, alí também há algo de humano, algo de nós, que vê nestas circunstâncias meios de serem acolhidos e reconhecidos em nós.

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