Essa tal "zona de conforto"


A seu respeito, muito já ouvimos falar: no comentário do parente, a respeito da forma como lidamos com as situações de nossas vidas, no feedback do trabalho, ou então nos nossos processos de estudos. Via de regra, o termo tem aparecido com uma conotação pejorativa, indesejada e até mesmo como algo perigoso.





Lembro-me de certo dia, já há algum tempo, que cheguei à análise e assim que entrei, despejei: "Tenho uma prova daqui duas semanas, tenho diversos artigos e livros para estudar e passei meu final de semana jogado aqui e ali em casa, lendo amenidades, vendo seriados e, ainda por cima, saí com meus amigos. De todo o final de semana, eu consegui apenas pegar um capítulo para ler, e ainda por cima, de forma despretensiosa".





Bom, não preciso nem explicar que, em outras palavras, eu estava falando que, ao longo desses dias, eu estava me permitindo ficar na "zona de conforto" e o quanto isto me trazia a percepção de que era improdutivo.





Esse sentimento perdurou por algumas sessões até que, finalmente, pude compreender melhor sobre a importância deste espaço, no qual a gente se conforta, se organiza e se prepara para novas vivências. Em meio a tanta tensão, em decorrência da prova que viria, a psique precisava de algum conforto para não ruir.





Penso que Garfield, o gato laranja dos quadrinhos, seja uma personificação (ou "felinização", se me permitem o neologismo) exata da zona de conforto: indisposto para se preocupar demais com tudo que vá além de sentir-se seguro, protegido, além de sempre afeito a uma cama quentinha e de estômago cheio (nunca com comida seca e sem graça de gatos, mas com lasanha). Ele, sendo um gato, de fato não tem todas as preocupações que seu humano (Jon) tem.





Jon tem um pouco de nós, quando apesar de seus afazeres e das necessidades que a civilização lhe impõe, se vê as voltas com as peripécias de seu gato. Assim também nos vemos frente aos momentos em que parece que essa "zona de conforto" nos impede de sermos bem sucedidos, produtivos, úteis.





Penso que o maior problema não seja lá a "zona de conforto", não, mas sim a forma como lidamos com ela e as lentes com as quais a enxergamos. Reconhecer e valorizar a importância dela pode ser um meio de manter um "porto seguro" onde se ancorar nos momentos difíceis, assim como o abraço quentinho (e confortável), num dia frio.





É reconhecer que a gente também precisa se satisfazer, se cuidar e se vivenciar, mesmo em momentos que não estamos satisfazendo às imposições, padrões e normas sociais e que também a "zona de conforto" pode ser uma grande amiga de nossa saúde mental.


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