A quem cabe curar?

Como já escrevi anteriormente, o fazer da psicologia ainda é cercado por muitos equívocos, desencontros e até mesmo desinformações. A psicoterapia e também a profissão de Psicólogo é muitas vezes confundida com a Medicina. Questionam quanto à possibilidade de medicação, ou até mesmo chamam o profissional de "Doutor". Até aí, até é compreensível, mas tudo isso nos leva ao objetivo final de uma busca de terapia: a Cura.
Ora, falar de cura é, no nosso falar cotidiano, influenciado fortemente por um pensamento biomédico, de que há uma enfermidade, uma doença, um mal a ser combatido, curado. Mas, será que ao Psicólogo cabe a responsabilidade de curar? Será que isso ainda está em suas mãos?
Temos recentemente um grande número de profissionais que "garantem" conhecerem métodos que trazem maiores ou menores resultados, além de clientes/pacientes, que cada vez mais batem à nossa porta buscando resultados e respostas. Cada um com suas fantasias, com suas percepções e conceitos, e aqui não faço julgamento moral, desde que isso seja efetivo.
Mas será que nós, como psicólogos, estudiosos da alma (psique), não estamos nos perdendo na busca de métodos para cura que mais nos tornam pessoas com obsessões reais em curar do que simplesmente humanos, também em processo de cura frente nosso cliente?  Será que não nos "vendemos" para a ideia de que temos a responsabilidade de oferecer melhores resultados e, tal como um produto, garantir uma melhora ao nosso cliente?
Acredito que o grande "pulo-do-gato" está em sairmos do pedestal que nos colocam e muitas vezes até gostamos, que mexe no nosso orgulho, na nossa vaidade, e por isso mesmo gostamos de sermos o "Doutor" ou o detentor da verdade, para posicionar o cliente também como sujeito responsável pelo seu processo de cura interior. É curar-se, o próprio terapeuta, em seus conceitos e em sua forma de ver o mundo, a si mesmo e o outro.
A famosa frase de Jung, muito mal utilizada "Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana" fala justamente disso. De conhecer-se a si mesmo para permitir-se a conhecer e olhar para a alma do outro como a sua própria, colocar-se no mesmo nível e no mesmo "patamar" que nosso cliente, pois no mínimo seria destoante, cuidar de alguém tão distante. O processo de cura acontece curando-se a si mesmo e permitindo que o cliente também trilhe esse caminho conosco.

Comentários

  1. Maravilhoso texto, obrigada João, se todos pudessem ter essa visão que é preciso curar a alma antes de tudo... Gratidão
    Stela Aniceto

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