Esse Baile de Máscaras

Ainda que dizer que se esteja usando uma máscara muitas vezes seja algo que muitas vezes possui uma conotação pejorativa, a vida em sociedade nada mais nos pede do que utilizarmos máscaras. Apesar de hoje muitos movimentos se esforçarem a resgatar o lugar de cada um, longe das exigências sociais, dos construtos sociais, nossa vida ainda é muito influenciada e muito ditada por estas regras sociais.
Jung definiu como as personas estas máscaras que utilizamos para nos relacionarmos com o mundo e elas são extremamente necessárias. Além, é claro de nos identificar a um agrupamento (por exemplo, já sabemos o que esperar de um médico, pois a persona de médico vem carregada de inúmeros conceitos, ou então a persona de mãe, de menino, de professor, de avô, etc), as personas protegem nossa totalidade psíquica. A exemplo desta proteção, os atores, ao interpretarem personagens, agem como eles devem ser e não como são os próprios atores, pois no palco não cabem suas angústias de vida privada.
Mas aí que a coisa começa a ficar difícil: como se utilizar a persona apenas nos momentos que ela é necessária? Quando uma mulher precisa tirar de si a persona de mãe para conversar como mulher com sua filha? Quando um coronel precisa distanciar-se desta persona para ser o marido? Muitas vezes a persona dá tanta segurança, que desgrudar-se dela é deveras sofrido e quase impossível.
E ai entramos num outro aspecto, muito comum nos consultórios: "Eu não consigo ser bom como eu deveria", "Eu estou com depressão", "Estou improdutivo", "Não sei o que fazer com este sofrimento". É sabido que o ser humano, por carregar em si não apenas instintos, mas principalmente a capacidade de raciocinar e de adicionar a esse pensamento a emoção, o sofrimento, a compreensão da falha e da culpa, são inerentes à nossa espécie.
Acontece que, na sociedade em que nos inserimos, não há espaço para falha, para culpa, para sofrer. O mundo social, corporativo, familiar, espiritual nos pede cada vez mais que vistamos esta persona de "bom, perfeito, produtivo, feliz, consumidor, não-sofrimento" e cada vez mais vai grudando esta máscara em nós, e deixando tudo o que não condiz com essas necessidades externas, no mais profundo de nosso ser. Porém isto tudo precisará ser ouvido e muitas vezes esse sofrimento, esta imperfeição, esta tristeza que chegam ao consultório, gritando por ajuda e por serem ouvidos.
Deve-se compreender que a vida tem muitos "bailes de máscara", mas que se queremos nos permitir viver em sua totalidade, não podemos transformar uma vida de tantas possibilidades num enorme baile, onde ninguém se permite ser conhecido em sua realidade. Onde todos somos apenas alimentados por uma necessidade de ser "fake". Permita-se tirar a máscara. Permita-se encarar a si mesmo.
 
 
 

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